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15º For Rainbow: 15 anos vivas

Rodrigo Passolargo

Rodrigo Passolargo compôs o Júri da Crítica do 15º For Rainbow - Festival de Cinema e Cultura da Diversidade Sexual e de Gênero com Arthur Gadelha e Mylla Fox. Confira o prêmio.

Desde o anúncio, instiguei-me a refletir sobre tudo que cercava a 15ª edição do For Rainbow. Sua belíssima identidade com faixas remetendo as fitas do Senhor do Bonfim com dizeres como “Respeita as monas”, “Abençoa as travestis”, “Reexistir” nos alertava que a vida da comunidade LGBTQIA+ é tão sagrada e bela de manter-se na sociedade quanto qualquer outra. Principalmente quando vem de um evento que há quinze anos nos avisa e ensina sobre histórias de pessoas que essa mesma sociedade insiste em empurrar nas covas da humanidade.


Se a vida é sacra e cuidamos daquilo que nos é sacro, por que não zelamos daquelas que exclamam para o alto “Vivas” como um respiro em meio ao tiroteio?


A essa pergunta a edição do For Rainbow respondeu através de diversas histórias vindo de vários países do mundo. Inclusive o nosso. Inclusive nossa região.


É desafiador o papel da crítica num evento que nos oferece inúmeras e plurais oportunidades de desenvolver linhas de pensamento. Infelizmente nesse dossiê muitas ficarão para trás, mas felizmente tantas estarão nas palavras dos meus colegas críticos que tive o prazer de compor o Júri da Crítica. E maior contentamento saber que muitas outras estarão nas reflexões de cada espectador que compareceu ao festival.


Ao assistir a abertura do evento com o ganhador de Melhor Roteiro e Longa Nacional, Transversais, comecei - sem perceber - a construir uma linha para esse texto. No documentário de Émerson Maranhão, surgem recortes da vida trans no nosso estado. O processo de autoconhecimento, transição, dificuldades, alianças e movimentos dessas vidas. Um documentário que antes tinha a proposta de ser uma série e foi censurado pelo presidente da república Jair Messias Bolsonaro em meio a inúmeras censuras assinadas por este. E entre tantas mortes nessa gestão federal - de pessoas, histórias e projetos - Transversais resistiu tal qual a vida das personagens que conta.


Ao decorrer, os filmes apresentados me despertavam um questionamento que assumo ser essencial enquanto minha condição perante eles quanto a todas as temáticas: como eu - e até onde sou permitido ir - posso ser parte da importante proteção psicossocial para as protagonistas dessas histórias?


Se em Transversais os diversos depoimentos tocam precisamente na importância da proteção psicossocial na vida LGBTQIA+ e a necessidade de anteparar a rejeição para seguir o progresso da vida, em Time de Dois, curta do diretor André Santos, ganhador do prêmio da Crítica, nos projeta o jogo que queremos em campo.


A naturalidade de um mundo que normalize o carinho homoafetivo, jogando o jogo do amor que importa, sem preocupar-se com os olhares escondidos de vestiários simplesmente por não mais existirem. O acolhimento das figuras familiares e ao se falar “família” entender-se sem lamentações como toda e qualquer estrutura égide de pertencimento afetivo.


Nesse pensamento que adoto com afinco para fins na crítica cearense, esta que toma em mim um de seus papéis: a edificação do pensamento humano para a inserção e ação do ser humano na sociedade. Na seleção de uma criteriosa curadoria, o Festival despertou a busca por entender, identificar a proteção psicossocial em seus lares urbanos e rurais em estruturas amplamente diversificadas, a dignidade não só como obrigação, mas com entusiasmo da pluralidade, uma sociedade que enxergue e atue na inserção da diversidade sexual e de gênero de forma holística sem abafar as necessidades aclamadas há tempos por quem percalça, para assim projetarmos e solidificarmos uma realidade onde toda a comunidade LGBTQIA+ brasileira saia da condição de sobreviver para adentrar no prazer de viver. Assim sonhamos com um For Rainbow onde conseguiremos adicionar o “Felizes” ao “Vivas”.


Não sei se cabe em tal dossiê esse teor de depoimento pessoal (que confesso oscila-lo no texto), porém afirmo que saio dessa edição do For Rainbow uma pessoa melhor do que quando entrei.

 

Rodrigo Passolargo é roteirista, escritor, produtor cultural cearense e crítico de cinema. Formado em Economia e graduando em História, com pesquisa voltada ao regional nordestino, cultura popular e armorial.


Leia os demais textos do Dossiê aqui


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