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Rodrigo Passolargo

Subterrânea (2021): Boas intenções não acham tesouros

Filme está em exibição no 10º Olhar de Cinema

Exibido na Mostra Olhares Brasil no Olhar de Cinema 2021 - Festival Internacional de Curitiba, o diretor Pedro Urano apresenta a dupla professora Stein e o estudante Leo. Tia e sobrinho investigam os mistérios do Morro do Castelo no Rio de Janeiro dentro de uma trama que envolve mensagens criptografadas, apuro historiográfico e uma imersão escondida assim como nas grandes cidades brasileiras: no seu subterrâneo.


As intenções do longa são das melhores. A riqueza que a primeira capital esconde é além de sua importância como pólis na história do Brasil. A escolha bibliográfica que rege a trama é robusta, como por exemplo evidenciar Lima Barreto não só dentro de sua esfera de pesquisa literária, mas também o insere como peça de produção de conhecimento histórico essencial para o enigma. Há a tentativa de colocar a cidade maravilhosa nas rotas de Robert Langdons e Indianas Jones e nisso tem até suas doses de méritos se isso não se distanciasse de possibilidades mais próprias de si.


Uma escolha muito parecida com Subterrânea acontece no drama documental Currais (2019) de Sabina Colares e David Aguiar, onde usa do recurso do historiador fictício Romeu para desenterrar a história dos campos de concentração cearenses e deixar às claras as dívidas que temos com o povo sofrido na formação de Fortaleza. O que faz Currais ser bem sucedido diante do longa carioca é a informação a serviço do sentimento e da narrativa, e não o contrário.


Outro longa cearense a destacar é Pajeú (2020) de Pedro Diógenes onde uma professora Maristela indaga e investiga a história aterrada de Fortaleza através do riacho que a originou e leva o nome do filme. Maristela tem sentimentos, preocupações secundárias da trama que faz o espectador adentrar nos seus conflitos principais.


Subterrânea clama a todo instante por emoção para passar sua informação de maneira mais crível. Inexistindo, não achamos o incrível. Acontece principalmente nos diálogos dos personagens onde se inflam de sapiência e carecem de construção (mesmo com o destaque da atuação de Negro Léo). Outro momento é a transferência de elementos factuais/documentais para os elementos alegóricos. Um pouco mais de sensação - que serviria de argamassa para ligá-los - faz a transposição algumas vezes ruir. Nos escombros da narrativa, Subterrânea caminha no escuro para entender que histórias são sobre pessoas. E a mais misteriosa das lápides é esculpida ou sussurrada por alguém.

 
Rodrigo Passolargo é roteirista, escritor, produtor cultural cearense e crítico de cinema. Formado em Economia e graduando em História, com pesquisa voltada ao regional nordestino, cultura popular e armorial.

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