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  • Vinícius Augusto Bozzo

Cabras da Peste (2021): a prova de que Jackie Chan é cearense



Quando uma produção estoura em grande sucesso, comentários e compartilhamentos, ela demonstra que já ganhou uma boa parte do público. Com Cabras da Peste, filme dirigido por Vitor Brandt e com roteiro assinado por ele e Denis Nielsen, aconteceu exatamente isso. E olha que não foi apenas na minha querida bolha repleta da turma do Ceará, amantes da comédia e colegas do audiovisual. Quem afirma isso é a própria Netflix que, um dia após a estreia, já o indicava como o filme mais assistido no Brasil.


O longa conta a história de Bruceuílis (Edmilson Filho) um policial dedicado da pacata cidade de Guaramobim, no interior do Ceará. Ele, como o próprio nome já diz, é um profissional da ação, coisa rara na cidade. Por teimar em ser muito mais do que a cidade precisa, Bruceuílis é colocado de castigo por sua chefe Vitória Regina (Valéria "Rossicléa" Vitoriano) em uma missão importante: "pastorear" a cabra Celestina, a mascote do mais tradicional evento da cidade. Com faro para o crime, Bruce acaba trombando com um "traficante de rapaduras" que sequestra a cabra para longe. "Lá pras banda" de São Paulo, outro policial tem uma carreira oposta. Trindade (Matheus Nachtergaele) é o típico policial de escritório que, ao ir para a rua, só causa vergonha à corporação.


Claro que essa missão "quase" impossível de resgate de uma cabra em São Paulo vai unir Bruceuílius e Trindade. O filme aproveita bem essa relação entre o Ceará e São Paulo, que gera tantas viagens, histórias e causos. É possível perceber até um cuidado na escolha de locações e das cores. O interior do Ceará é colorido, cores quentes mais vivas. Já São Paulo é acinzentado e azulado.


Aliás, essa dualidade também está na trama. Cabras da Peste faz um humor em uma estrutura comum, porém é brilhante nos bons diálogos e no humor de absurdo. Além disso, a evidente paródia dos clichês de filmes policiais do gênero Buddy Cup (policiais parceiros) funciona muito bem. Os protagonistas são extremamente diferentes, ambos tem chefes exigentes e, até a clássica cena do desarme da bomba no último segundo recebe, na versão do filme, o tom da nossa "molecagem" .


A boa química de Edmilson e Matheus, que já trabalharam juntos em Cine Holliúdy, é evidente e o carisma dos atores elevam todas as piadas do texto. O elenco é um ponto forte. Unir atores comediantes como Falcão, Leandro Ramos, Letícia Lima, Victor Alen, Valéria e Evelyn Castro foi uma acertada escolha. Aliás, Valéria, uma das mais incríveis comediantes cearenses no palco, está muito bem no papel da chefe de polícia que nada tem a ver com a sua famosa Rossicléa. Outra atriz que rouba a cena é Evelyn no papel de uma motorista de Uber cheia de dilemas que recebe do texto excelentes piadas.


O personagem de Edmilson também é bem desenvolvido no roteiro, coisa rara nas comédias do Brasil. A relação do ator com as artes marciais aparece ainda mais genuína neste filme. Para quem não sabe, Edmilson é um verdadeiro atleta e bicampeão brasileiro de Taekwondo. Assim como em Cine Holliúdy e Shaolin do Sertão, Edmilson une comédia e luta em uma proporção muito boa de assistir. É como se Jackie Chan tivesse nascido no Ceará. Para quem ama cenas de luta, Cabras da Peste é um banquete com direito a uso de toalha pra desarmar bandido e lutas ao som de Sidney Magal.


Alguns pontos da história parecem ser entregues rapidamente como, por exemplo, a revelação do bandido principal. Porém, nada tira o brilho do sucesso e da diversão garantida em tempos difíceis de pandemia e isolamentos. Particularmente, eu adoraria ver o filme nas grandes telas do cinema, mas acho que a Netflix, no atual momento, é a melhor janela de exibição.


Foi maravilhoso ver amigos na ficha técnica. Parte do filme foi produzida aqui e com gente daqui. Mostrando, novamente, que o Ceará está se fortalecendo ainda mais. Um cinema com documentários premiados, curtas, filmes experimentais, longas de alto nível e também é a terra de talentos que ajudam a criar um sucesso no mais popular streaming da atualidade.


Ao final de Cabras da Peste, a história da trama principal é concluída, mas sua última sequência dá uma enorme pista para um segundo filme ou quem sabe uma série. Material para ser desenvolvido e capacidade de entregar uma espécie de Brooklyn 99 genuinamente brasileiro esses "cabras" tem de sobra.


Crítica publicada pelo Autor no Cosmonerd

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