top of page

AO OESTE, EM ZAPATA | UM LUGAR DE MEMÓRIA E ETERNIDADE

  • Foto do escritor: Raiane Ferreira
    Raiane Ferreira
  • 3 de out.
  • 2 min de leitura

ree

Quando falamos de cinema, falamos também da potência da imagem e do som que, ao irromper a matéria fílmica, transborda sensibilidade e presença. A câmera não apenas documenta: ela captura o instante, eterniza instantes e nos convida a habitar o tempo do outro. É nesse gesto que se inscreve o primoroso documentário “Ao Oeste, em Zapata”, do cineasta espanhol radicado em Cuba, David Bim.


Foram oito anos até a conclusão da obra. O filme acompanha Landi e Mercedes, um casal que vive em Ciénaga, no sul de Cuba, onde a sobrevivência exige separações dolorosas. Para sustentar a família, Landi enfrenta o pântano em busca de crocodilos, numa caça clandestina que exige silêncio, astúcia e resistência. Enquanto isso, Mercedes cuida da casa e do filho autista, atravessando as dificuldades agravadas pela pandemia.


A rotina de ambos é marcada pela urgência e pela subsistência, mas também pela resiliência. A paisagem pantanosa, com seus vazios e cheias, funciona como metáfora de um entrelugar, um limiar onde tudo se move, onde a vida é fluxo e incerteza. A câmera de Bim acompanha esse universo com delicadeza: seus longos planos-sequência respeitam o tempo dos gestos, a dureza dos corpos, a densidade do trabalho. O preto e branco sublinha texturas e contrasta luzes, enquanto a sonoridade do ambiente nos faz mergulhar na pulsante natureza.


Do outro lado da narrativa, está Mercedes. Sua presença sustenta o lar e o afeto, mesmo diante da ausência constante do marido. Há algo de profundamente humano na maneira como o filme registra essa mulher: seu corpo, sua voz, seus movimentos carregam o peso da sobrevivência, mas também a força de quem insiste em cuidar e em amar.


“Ao Oeste, em Zapata” é, assim, um documentário que se recusa a espetacularizar a miséria ou a reduzir seus personagens a símbolos. Pelo contrário: respeita-os, colocando em primeiro plano vidas que normalmente permanecem invisíveis. Um retrato de resistência, marcado pela dureza, mas também pela ternura, e que encontra no cinema um lugar de memória e eternidade.


Comentários


PARCEIROS

Ativo 1.png
Ativo 2.png
são luiz 1.jpg

© 2025 Aceccine - Associação Cearense de Críticos de Cinema

bottom of page