23ª Noia | A potência do cinema universitário
- Raiane Ferreira

- há 1 dia
- 3 min de leitura

A 23ª edição do Noia – Festival Internacional do Audiovisual Universitário – aconteceu em outubro de 2025 e apresentou uma grande diversidade de obras e perspectivas da juventude que faz cinema no Brasil e no mundo. É interessante perceber, entre tantos trabalhos, as diferentes possibilidades de fazeres e temáticas que instigam e compõem o audiovisual universitário. É na universidade que se pode experimentar.
Na competitiva cearense, vimos filmes com histórias inspiradas no folclore, como O Lobisomem da RFFSA (Cuca), que experimenta contar de maneira inventiva a partir dos recursos da linguagem cinematográfica. Também tivemos narrativas que despertam reflexões sobre liberdade e altruísmo, como Rose e Maria (Unifor), cuja trajetória da protagonista ecoa a vida de muitas mulheres presas em relacionamentos tóxicos. Há ainda obras mais contidas e intimistas, como o sensível Do lado de dentro (Unifor), que acompanha personagens em seus conflitos internos e usa a ferramenta do cinema para expressar algo tão particular e íntimo.
Na competitiva brasileira, destacaram-se filmes de caráter político e sensorial, como Combustão não espontânea (2023, Boni Zanatta), que explora a força do fogo para expor tanto a criação do fazer cinema e cultura quanto a destruição das memórias. Outros trabalhos brincam com a farsa para abordar questões complexas sobre abuso e sobre como o corpo da mulher é tratado na sociedade, como É fundamental te ter por perto (2024, Mia Lima Rocha). Nessa comédia, acompanhamos uma mulher que questiona o amigo por querer defendê-la de um suposto abusador. A partir desse gesto, surge um conflito que problematiza a atitude do rapaz, indo contra a opinião do público que presencia a situação e que tende a exaltar a figura masculina.

Também houve experimentações marcantes em Feiura Comovente (2025, Ultra Martini), que utiliza a performance inspirada no Teatro da Crueldade de Artaud para propor uma experiência visceral e sensorial. Além disso, pudemos ver histórias de amor no contexto LGBTQIAPN+ em Quebra-Mar (2025, Carol Honor e Lucas Ranyere) e Maral (2025, Julia K. Rojas). Entre todos, o grande vencedor foi Sertão 2138 (2025, Deuilton B. Júnior), uma ficção científica filmada no sertão de Pernambuco.
Entre as animações mais interessantes, destaco Confusion of the Afternoon (2023, Lee Yung-Chieh | Taiwan), uma bela e imaginativa dança de um menino tocado por um amigo enquanto jogavam cartas. Já My Monthly Struggle (2025, Crystal Tai | Austrália) traz uma potente experimentação feminista que explora o corpo feminino e seu ciclo.

Na competitiva internacional, o filme que mais me chamou atenção foi Pharaoh (2025, Clement Reglier e Constant Reglier), principalmente pela qualidade técnica e pela capacidade de envolver o espectador na atmosfera do horror medieval. Já na mostra autoral, Desdêmona (2025, Clara Klaus) e Lux Carne (2024, Gabriel Grosclaude) foram os mais intrigantes, ambos com primor técnico e estético. O primeiro é um body horror que propõe uma experiência íntima e fantástica sobre uma mulher que tem medo de borboletas e aos poucos se transforma em uma. O segundo explora uma realidade na qual qualquer pessoa que queira comer carne deve passar por um teste: matar seu próprio alimento. É nesse contexto que uma jovem repórter decide documentar o processo e enfrentar o desafio.
Percebe-se o quanto o Noia 2025 foi rico, repleto de obras interessantes e bem realizadas. É fato que o cinema universitário é um dos mais potentes que existem, pois pulsa em sintonia com temáticas atuais e debates urgentes, ao mesmo tempo em que recorre à criatividade para contar suas histórias e expressar o desejo de fazer cinema.



Comentários