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Arthur Gadelha

Matthias & Maxime (2019): O conflito refém de si mesmo


O conflito da paixão inesperada entre dois amigos de infância é pouquíssimo explorado em tempo útil de Matthias & Maxime, novo filme do cineasta canadense Xavier Dolan. Na trama, Mathias (Gabriel D' Almeida Freitas) e Maxime (o próprio Dolan) acabam se beijando inesperadamente durante a gravação de um curta-metragem. O ato desperta um desejo que, apesar de nunca ter se materializado até ali, revela-se bem distante da ficção que o originou.

Como ambos se identificam com a heterossexualidade, está posto um atrito sexual que reflete de forma explícita a identidade dramática dos filmes de Dolan. A dúvida que se instala sobre o rumo desse desejo nas mãos de um diretor tão compulsivo é realmente um elemento intrigante - afinal, o que ele poderia fazer para transformar esse clichê dos romances gays em algo palpável?

A introdução enfadonha que apresenta a relação peculiar de Maxime com os amigos de infância é relevada pelo suspense que existe ao redor: em que momento haverá a esperada ruptura para um segundo ato? Neste momento prévio, a diretrizes cênicas estão expostas numa conversa confusa e explosiva onde muitos personagens precisam ser digeridos de uma só vez. Essa longa sequência da reunião informal, inclusive, lembra o caos de É Apenas o Fim do Mundo (2016), onde uma família completamente dessintonizada tenta se entender. A diferença neste é que o drama invisível de Maxime não permite que todo o rebuliço se desenvolva de forma direta. Mas sem muito preparo ou exposição, acontece a esperada ruptura e o conflito se restabelece.

Num espaço de 80 minutos entre a dúvida e a exposição desse sentimento, Dolan não se preocupa muito em materializar essa aflição. Buscando camadas insensíveis para esse romance, aposta em narrativas frágeis para sustentar a espera de uma resolução, como a visita do empresário canalha (expondo de forma bruta a construção social da heterossexualidade), a fria vida business de Matt e os conflitos materno/familiares de Maxime reciclados de pelo menos quatro de seus filmes anteriores.

Então sobra tudo ao subtexto que, embora surrado pela montagem, está ali. No olhar, na tristeza, no desenho de infância, no e-mail nunca enviado, no lago imenso e sufocante, no beijo, e até na música pop que Dolan provou saber usar muito bem desde que encerrou sua obra-prima Mommy (2014) com Born to Die, de Lana Del Rey.

Sobra sinais em Matt e falta à apatia de Max, uma composição interessante de sentir que, no entanto, vai se tornando cada vez menos interessante à medida que a narração não apresenta nada além da dúvida e investe na apatia emocional dos personagens durante toda a projeção. Matthias & Maxime é um filme que se sustenta pela singela sugestão de amor e carinho que, por não conseguir se apresentar de forma orgânica, deixa para que o conflito seja explorado apenas na imaginação

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