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  • Larissa Bello

18º Noia: Resistir é preciso!


O ano de 2019 foi e tem sido um ano difícil para aqueles que trabalham com a cultura no nosso país. Várias produções cinematográficas estão suspensas devido a questões políticas vinculadas a Ancine (Agência Nacional do Cinema), com editais “congelados” pelo Ministério da Cidadania. Essas e outras ações vêm interferindo em vários setores da cultura desde que o presidente Jair Bolsonaro iniciou seu mandato e formou os seus ministérios, inclusive com a eliminação de outros. As medidas repercutiram também em peças de teatro, shows musicais e em festivais de cinema. O Festival do Rio correu o risco de não conseguir acontecer, e só foi possível devido a uma campanha de “vaquinha” nas redes sociais.

O Festival Noia é um festival nacional de audiovisual universitário e que, com muito esforço dos organizadores foi concretizado em sua sua 18ª edição, no período de 02 a 06 de dezembro de 2019. O festival também contemplou fotografia e bandas que se apresentaram no final de cada noite. Os filmes selecionados foram todos de curta-metragem, que se dividiram na Mostra Cearense de Cinema e na Mostra Brasileira de Cinema. Para esta, as premiações de Melhor Curta-Metragem incluíram jurados, que formaram o Júri Oficial, Júri Popular, Júri dos Bolsistas e Júri da Crítica, formado por membros da Aceccine: Kamila Medeiros, Larissa Bello e Thiago Henrique Sena.

Em edições anteriores o festival ocorreu na Caixa Cultural e no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. A edição desse ano aconteceu, pela primeira vez, no Sesc Ceará. A sala em que foram exibidos os filmes era bem pequena e deixou muito a desejar no quesito sonoro. No primeiro dia de exibição, o som estava muito ruim. Já no segundo dia, a equipe de produção do festival melhorou um pouco essa questão técnica.

Grande parte dos filmes que concorreram na Mostra Brasileira de Cinema retrataram contextos ligados ao atual cenário político no nosso país. Alguns optaram pelo humor, como o “Copacabana Madureira”, de Leonardo Martinelli/RJ, que faz uso de uma colagem de imagens e recursos sonoros e musicais para expressar, com muito deboche, temas como família tradicional, as disparidades das classes sociais e até mesmo as fake news. Já “Bicha Bomba”, de Renan de Cillo/PR, utilizou imagens de arquivo para relatar a história de uma criança que foi morta pelo pai que considerava o filho muito “afeminado”. Esses dois documentários chamaram a atenção não só pela temática, mas pela forma de suas abordagens.

Na ficção, “E O Que Que a Gente Faz Agora?”, de Marina Pontes/BA, é curioso observar como a diretora fez uso da metalinguagem e do recurso extra-campo para narrar um romance entre duas meninas. O resultado trouxe uma delicadeza para a proposta da história, principalmente nos momentos em que a câmera se torna um dos personagens.

“O Verbo Se Fez Carne”, de Ziel Karapotó/PE foi o escolhido pelo Júri da Crítica por conseguir ser extremamente contundente de uma maneira tecnicamente simples. O diretor, que é de origem indígena, alcançou uma expressão profunda ao elaborar uma performance, em que um índio, interpretado por ele mesmo, rasga folhas da bíblia ao som de cantos gregorianos misturados com cantos indígenas. Essa fusão sonora somada à ação performática trouxe a tona uma série de leituras sobre os genocídios indígenas, e o quanto se matou de uma cultura que, infelizmente, ainda continuam sendo mortos. Seja antes, com o discurso promovido pela Igreja Católica juntamente com os colonizadores, seja agora, com a total negligência dos governantes atuais.

É por isso que é preciso haver, cada vez mais, festivais e movimentos culturais. Dar voz as mais variadas expressões artísticas. Mas é preciso também haver um envolvimento maior do público. Fazer com que as pessoas saiam de suas casas e participem mais desses movimentos. A arte precisa ser vista e discutida por um número maior de pessoas. Precisa alcançar diferentes nichos, sair da sua bolha. De que forma podemos agir para que isso aconteça? Esse é um interessante desafio não só para festivais como o Noia, mas também para vários movimentos artísticos/culturais.

Larissa Bello integrou o júri Aceccine do 18º Noia - Festival de Audiovisual Universitário, em dezembro de 2019. Confira os filmes premiados.

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