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Thiago César

Loja de Unicórnios (2019), de Brie Larson


Brie Larson é uma atriz em evidência atualmente. Pouco tempo depois de ganhar o Oscar em 2016 por sua performance em O Quarto de Jack, foi escalada para o cobiçado “panteão” de super-heróis do Universo Cinematográfico da Marvel, dando vida à personagem-título Capitã Marvel, que arrecadou mais de 1 bilhão de dólares nas bilheterias ao redor do mundo.

Menos de dois meses depois da estreia do primeiro filme solo de super-heroína do MCU, a atriz retornará às telonas na pele de Carol Danvers em Vingadores: Ultimato, que tem grandes chances de ultrapassar a barreira de 2 bilhões na bilheteria mundial. Porém, nesse meio tempo, antes mesmo de Capitã Marvel sair de cartaz, Larson protagoniza e estreia na direção de um longa em Loja de Unicórnios. O filme tem circulado festivais desde 2017, mas só agora é lançado oficialmente pela Netflix.

No enredo, acompanhamos a jovem-adulta Kit (Brie Larson), que por algum motivo não se identifica com o mundo adulto e tem dificuldades de deixar seus sonhos de infância para traz. A menina-mulher se esforça em vão na carreira de pintora, ainda mora com os pais – vividos por Joan Cusack e Bradley Whitford – e não tem perspectiva de um futuro responsável por conta própria.

Ao começar a estagiar em uma empresa de publicidade tentando se convencer de que é capaz de amadurecer, recebe uma misteriosa carta sobre uma loja que vende o que ela precisa: um unicórnio. A partir daí, Kit tem que lidar com os desafios de seu primeiro emprego e preencher os quesitos para adquirir o unicórnio.

A roteirista Samantha McIntyre foi quem convenceu Larson a protagonizar o longa, uma vez que não era sua intenção. Neste caso, a diretora deveria ter seguido seu instinto, pois transmite artificialidade no papel. Apesar de na segunda metade do filme a atriz já apresentar certa desenvoltura e conforto na pele de Kit, seus trejeitos parecem forçados ao tentar reproduzir visualmente a ingenuidade da personagem.

Os coadjuvantes, por outro lado, estão muito bem escalados. Além de Cusack e Whitford, que tiram sinceros sorrisos do espectador, Mamoudou Athie que interpreta o melhor amigo de Kit, Virgil, transmite uma linguagem corporal tímida e “sem jeito” bem mais natural do que Larson.

Samuel L. Jackson é o vendedor d’A Loja, uma figura misteriosa e talvez mística, lembrando Willy Wonka de A Fantástica Fábrica de Chocolates, mas sem a fama. O ator já trabalhou com Larson em Kong: Ilha da Caveira e Capitã Marvel, o que lhes rendeu uma boa amizade na vida real. Infelizmente, isto não é transposto para o longa, pois o roteiro de McIntyre não oferece a quantidade de tempo nem a qualidade de diálogos necessários para os atores desenvolverem uma boa química em tela, o que seria essencial à narrativa.

O design de produção de Matt Luem incomoda de tão extrapolado. A personalidade infantil de Kit é externalizada por meio de cores vibrantes em qualquer situação que se conecte à ela. Roupas coloridas, luzes coloridas, objetos coloridos, etc. Isto é válido na medida em que contrapõe a paleta de cores acinzentada do seu ambiente de trabalho, dando a ideia de que a personagem não pertence àquele local. Mas isso se dá de forma tão exagerada que nos deparamos com situações incoerentes como as solas dos pés da protagonista cheias de glitter. É como se Kit não tivesse evoluído mentalmente desde os oito anos de idade, dando sinais de um possível transtorno mental.

A direção decente e a atuação esforçada de Larson ficam reféns do roteiro de McIntyre. O que era pra ser um filme sobre amadurecimento e redescoberta pessoal, acaba por ter uma resolução abrupta que não teve desenvolvimento. Chegando atrasadas na moda indie/fofa, Larson e McIntyre tentam fazer um Lady Bird ou Frances Ha, mas acabam culminando em um De Repente 30, só que bem menos divertido e coerente.

Publicado pelo Autor no site Cinemaginando

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