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  • Thiago Sampaio

Vingadores: Guerra Infinita (2018), de Anthony e Joe Russo


Foram 10 anos apresentando personagens existentes num mesmo universo para finalmente colocá-los juntos num clímax épico. Foram nada menos que 18 filmes e dezenas de heróis e vilões que caíram no gosto popular, seja para aqueles que cresceram lendo HQs e viram as páginas serem materializadas no cinema ou uma nova geração cultivada já pelos longa-metragens. “Vingadores: Guerra Infinita” (Avengers: Infinity War, 2018) é o terceiro ato de uma década da Marvel Studios, construído para ter uma dimensão maior do que tudo que já fora feito. E consegue! Honra cada um em cena, joga para o alto presentes para os fãs e deixa o território aberto para um desfecho ainda mais marcante.

A trama apresenta Thanos (Josh Brolin) disposto a reunir as seis Joias do Infinito. Para enfrentá-lo, os Vingadores precisam unir forças com os Guardiões da Galáxia, ao mesmo tempo em que lidam com desavenças entre alguns de seus integrantes. Para isso, precisam estar dispostos a sacrificar tudo em uma tentativa de derrotar o a ameaça antes que sua onda de devastação coloque um fim no universo.

Responsáveis pelo ótimo “Capitão América 2: O Soldado Invernal” (Captain America: The Winter Soldier, 2014) – na minha opinião, o mais maduro de todos os filmes deste universo – e do eficiente “Capitão América: Guerra Civil” (Captain America: Civil War, 2016), os irmãos Joe e Anthony Russo assumem a direção mais uma vez, agora com a dificílima missão de misturar tanta gente e fechar inúmeras pontas que vinham sendo deixadas soltas. E são bem sucedidos, imprimindo um ritmo frenético que faz as duas horas e quarenta minutos passarem tão rápido que o espectador mal percebe. Com momentos decisivos um atrás do outro, logo estamos diante da batalha “final”.

Logo de início, temos talvez o melhor prólogo deste universo, com eventos que acontecem logo depois de “Thor: Ragnarok” (idem, 2017). Mas o tom quase pastelão que existia ali dá vez a uma tensão constante, num clima de quebra de esperança para os mocinhos que cresce pela projeção. Quando ameaça parar para dar uma respirada, sempre retorna com mais uma cena de ação. Este é de longe o mais movimentado longa da saga, porém, tais cenas são de fácil compreensão, diferente de confusões visuais como a guerra contra robôs alienígenas do final de “Vingadores: Era de Ultron” (Avengers: Age of Ultron, 2015). Desde a bem coreografada luta corporal do início entre dois personagens e o clímax envolvendo milhares de elementos, tudo flui de maneira eficiente.

Como conciliar o tempo em tela de cada personagem era um tarefa ingrata, o roteiro de Stephen McFeely e Christopher Markus (ambos de todos os outros “Capitão América”) tem a saída um tanto óbvia de dividi-los em muitos núcleos. Desnecessário desenvolver a personalidade quando esse trabalho já tem sido feito nos filmes solos. Assim, todos têm seus momentos e cada ator já se mostra à vontade em seu respectivo papel. Porém, a montagem soa um tanto brusca ao fazer a constante transição entre esses núcleos. Não há muita preocupação com coesão, afora a mudança da trilha sonora para indicar um novo ambiente (como o ritmo africano de Wakanda e a música retrô dos Guardiões da Galáxia). As piadinhas continuam a acontecer o tempo todo, a “Fórmula Marvel” não deixou de existir, mas o niilismo da trama trata de diminuir as gags naturalmente.

Por se tratar da primeira parte de uma história, peças importantes como Steve Rogers (Chris Evans) e o Pantera Negra (Chadwick Boseman) soam bem apagados diante do peso que eles carregam, possivelmente com seus espaços reservados para a “Parte 2”. A Viúva Negra (Scarlett Johansson), coitada, continua sem receber a atenção que merecia, enquanto James Rhodes (Don Cheadle), Bucky Barnes (Sebastian Stan) e o Falcão (Anthony Mackie) ficam limitados a meros combatentes. Compreensível, pois seria necessário um longa de 10 horas para que todos fossem contemplados de maneira igualitária. Aqui, comprimiram de uma maneira que funciona.

Astros consagrados tiveram que baixar o orgulho em nome do projeto maior, como por exemplo, o sempre excelente Benedict Cumberbatch, que mostra de novo ter sido a escolha perfeita para ser o Doutor Estranho e é essencial para o desenvolvimento do roteiro. Tony Stark (Robert Downey Jr.), que se tornou o protagonista dos Vingadores por causa do sucesso surpresa que seu personagem fez lá em 2008, tem suas cenas importantes, continua com a ironia básica que funciona como alívio cômico, mas aqui é mais uma peça de todo o enorme crossover. Todo mundo sabe o valor deles!

Se por um lado o Hulk tem pouco tempo em cena, Mark Ruffalo tem mais liberdade para desenvolver o lado cômico do desajeitado Bruce Banner. Já outros têm mais oportunidade ao ganharem um arco próprio, casos do Visão (Paul Bettany) e da Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen). Mas ali estão peças que inevitavelmente vão cair nas graças do público de maneira mais cativante. Um deles é o Homem-Aranha (Tom Holland), que continua com um carisma fora da curva, como o adolescente deslumbrado em meio aos seus ídolos (e a atuação do jovem rende um dos momentos de maior emoção durante o último ato).

O mesmo vale para os Guardiões da Galáxia, que finalmente contracenam com os outros heróis e o resultado é bem divertido, de forma que a narrativa respeita e mantém o tom despojado e até nonsense que permeava os dois longas da esquisita e não muito inteligente equipe. Assim eles ficam responsáveis por grande parte do humor, com direito a ótima interação de Peter Quill (Chris Pratt, simpático como sempre!), Rocket (voz de Bradley Cooper), Groot (voz de Vin Diesel) Gamora (Zoe Saldana), Drax (Dave Bautista) e Mantis (Pom Klementieff) com Thor (Chris Hemsworth), que desta vez assume o “protagonismo” e estrela as cenas de maior impacto. Sim, o Deus do Trovão que os fãs merecem apareceu de vez!

Mas “Guerra Infinita” tem um dono e este se chama Thanos. Se a primeira aparição do antagonista foi lá na cena pós-créditos do primeiro “Os Vingadores” (Marvel’s Avengers, 2012), tudo desde então tem sido preparado para ele. Aqui, temos pela primeira vez em toda a cronologia um vilão como nítido protagonista. Não só a trama gira em torno da sua jornada para reunir as Joias do Infinito para que possa colocar o seu peculiar plano em prática, como, literalmente, da primeira à última (e visualmente belíssima!) cena é ele quem dita o rumo das ações, enquanto todos os outros reagem.

Muito desse peso se deve à performance extremamente cuidadosa de Josh Brolin, mesmo debaixo de uma tonelada de CGI (que até tiram a veridicidade do personagem, porém, é necessária), consegue trazer humanidade, com apenas alguns momentos pontuais de fúria. Com voz taciturna de quem sente a angústia por cada morte que causa em nome de uma causa que acredita ser nobre, a relação de amor e ódio com a filha adotiva Gamora e até o respeito que demonstra sentir por pessoas como Tony Stark impede que o espectador sinta apenas repulsa a ele. Sim, ele quer eliminar metade do universo em um estalar de dedos! Mas com a certeza de que assim, os restantes vão encontrar o equilíbrio, compartilhando os recursos naturais e vivendo em harmonia.

Em todo este contexto, o roteiro encontra espaços para referências a inúmeros episódios que aconteceram nos longas anteriores, aparições surpresas e um caminhão de easter-eggs que fazem alusão às histórias em quadrinhos para não deixar nenhum fã mais radical decepcionado. E por mais que já tenha sido divulgado em exaustão que alguém pode morrer (calma, não há spoilers aqui!), não tem como negar que há momentos de ousadia. Ao final, boa parte dos espectadores até pode ter a consciência de que certos personagens vão retornar no futuro, mas o destino escolhido gera inúmeras teorias/especulações. O próximo capítulo estreia em 2019, que nunca pareceu tão longe!

Com o surgir dos créditos finais, não há dúvidas de que estamos diante de mais um “filme de super herói” barulhento e cheio de efeitos especiais que vai ultrapassar a barreira de US$ 1 bilhão nas bilheterias mundiais. Mas com muito respeito ao público alvo que consumiu esse mercado específico há uma década. E só em provocar reflexão e debate sobre o que pode ter ocorrido, projetando o futuro, mostra uma coragem dentro do limite que uma empresa gigante como a The Walt Disney Company pode ter. Afinal, ela não quer perder suas principais minas de ouro.

Publicado pelo Autor no site Tribuna do Ceará

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