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Daniel Herculano

17º Noia: Quem brilhou


Tommy Brilho (2018),Sávio FernandesApesar de ter vencidos os prêmios do Júri Oficial, do Júri da TV e do Júri Popular da Mostra Brasileira de Cinema Universitário do NOIA, a comédia cearense , na minha opinião, não brilhou como o melhor filme de fato. de

Os filmes que fizeram os meus olhos brilharem no festival foram três documentários e uma foto colagem narrada, de produção impecável. O vencedor do prêmio da crítica/Aceccine, Kris Bronze (2018), de Larry Machado, que mostra o dia a dia de uma empreendedora do interior de Goiás, que tem uma empresa de bronzeamento em sua laje. O tocante drama sobre uma ex-presidiária que tenta reconstruir sua vida, Que som tem a distância? (2018) de Marcela Schild. O politicamente atual, Magalhães (2018), de Lucas Lazarini, construído a partir de arquivos de um candidato a prefeito de Campinas em 1992. Seu curta mostra como os políticos brasileiros continuam a praticar a mesma política de sempre, com as mesmas promessas de sempre, e os mesmos resultados de sempre. Já a colagem Inconfissões (2018), de Ana Galizia, relembra a vida do seu tio, Luiz Roberto Galizia, desconhecida para ela e sua família, mas uma figura importante na cena teatral de 70 e 80, de uma produção primorosa. Filmes que falam sobre o Brasil que vem sido reconstruído em um período pós ditadura, e que se fortaleceu com os governos populares do Partido dos Trabalhadores, mas que também vislumbram como pode ser cinza o futuro.

Mas, como informei, o grande vencedor do Noia foi o curta cômico Tommy Brilho, que é acometido do mal de uma ideia maior que sua própria realização. Quando o conceito do filme é mais forte que seu conteúdo, quando o motivo para usar uma pirotecnia suplanta sua realização artística, ou mesmo quando uma ideia é desperdiçada no meio do caminho (nesse caso fazer graça pela graça), e não pensar, o desastre já foi consumado a partir da concepção. O resultado é apenas obra engraçadinha, porém esquecível. É como se o realizador estivesse interessado apenas em vislumbrar um resultado final - chamar a atenção em um filme sobre um aluno homossexual invisível que faz graça de si mesmo pela sua condição incomum - e não se preocupa nada com a mudança de percepção do seu protagonista, alicerçar sua história com motivações, construir e modificar seus personagens em sua jornada narrativa

E existe uma pegadinha aqui. Usar a invisibilidade social, aquelas pessoas que não são notadas, que vivem à margem da sociedade ou são excluídas dela, no caso o protagonista Tommy Brilho, com a invisibilidade "real" praticada. Sim, pois Tommy é o primeiro aluno invisível da universidade. Mas, ao invés do seu desafio ser a representatividade, ou ser "visto" como um aluno normal, o teor "diferença" é colocado como algo cômico, e seu objetivo maior é ser notado por um garoto o qual está apaixonado.

E é nesse ponto que a ideia é transformada em comicidade, onde os efeitos ganham seu lugar de destaque na trama e as escolhas de roteiro enfraquecem o próprio contexto social. O público parece não notar o quão raso está nessa viagem boba, e apenas se satisfaz com as piadas físicas, com as brincadeiras invisíveis do seu protagonista, sua fala caricata, e completando o combo, os amigos que o acompanham (de atuações constrangedoras), que funcionam como uma trupe dos desajustados do sistema. É um aceno ao discurso de que "ser diferente é melhor do que ser igual a todo mundo", e eu gosto muito desse nuance, porém não é forte nem vivo o suficiente, seja para pulsar algum tipo de posicionamento ou levantar uma bandeira. Para mim, venceu, mas não brilhou.

Daniel Herculano integrou o júri Aceccine do 17º NOIA - Festival do Audiovisual Universitário, em outubro de 2018.

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