Greta Gerwig ganhou notoriedade em Hollywood com suas performances como atriz em comédias dramáticas de caráter indie, como "Greenberg", "Frances Ha" e "Mistress America", todas dirigidas por seu namorado e principal parceiro artístico, Noah Baumbach. "Lady Bird – A Hora de Voar" é seu segundo longa como diretora, assinando também o roteiro. Embora sem grandes novidades quanto a temáticas e gênero, Gerwig demonstra segurança e personalidade na condução narrativa.
A história se passa em 2002, quando a sociedade americana ainda se recuperava do maior ataque terrorista da história do país, no ano anterior. Uma áurea de desilusão permeava sutilmente os sonhos da juventude naquela geração. Neste contexto, a jovem que dá nome ao título, interpretada com desenvoltura por Saoirse Ronan, lida com os problemas cotidianos da família e da escola, almejando uma faculdade que não a prendesse na vida pacata da pequena cidade de Sacramento.
É possível perceber um sutil tom autobiográfico no roteiro de Gerwig, que demonstra com diálogos naturais, situações banais e bom humor uma propriedade de conhecimento sobre como era lidar com as inseguranças e ambições de uma jovem americana na época. Isso estabelece uma empatia imediata com o espectador, visto a fácil identificação sobre o estilo de vida e preocupações corriqueiras pelas quais a personagem passa. Christine (nome de batismo de Lady Bird), inclusive, poderia muito bem ser interpretada pela própria Greta Gerwig caso a cineasta fosse mais jovem. É a típica narrativa e protagonista de Baumbach, mas dessa vez trabalhadas com mais propriedade por uma figura feminina.
A montagem de Nick Houy dá vibração ao longa. Principalmente durante o primeiro ato, onde somos apresentados às diferentes partes que compõem a vida da personagem, os cortes certeiros estabelecem um ritmo intenso e divertido. À medida que a trama se desenvolve, porém, Houy descansa a imagem em momentos de maior dramaticidade, com destaque aos últimos minutos da projeção.
"Lady Bird" é um filme simples e verdadeiro sobre maturidade, descobertas, decepções, reconhecimento das pessoas e do mundo ao redor, e principalmente, de si mesmo. Uma obra como muitas outras, mas nem por isso menor. Certamente um dos filmes mais pessoais do ano, com merecidas cinco indicações ao Oscar.
Publicado pelo autor em Cinemaginando