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Thiago Henrique Sena

A Forma da Água (2017), de Guillermo del Toro


Desde os tempos antigos, a raça humana tem por habilidade natural o poder de fabular. Seja na época das cavernas ou no Egito antigo, passando pelos gregos e o Império Romano, homens e mulheres sempre contaram histórias de seres monstruosos, fantasias e guerras. Não seria a Odisseia, livro literário importantíssimo de Homero, uma viagem sem fim por um mundo habitado por monstros, após a Guerra de Troia? Ou a série de contos publicados no século XIX pelos Irmãos Grimm uma releitura dos contos de fadas clássicos? Ou mesmo os romances de Mary Shelly e Bram Stoker que tratam o horror e o terror como substância para o surgimento de monstros e usaram desses elementos para contar suas histórias. Com o advento da fotografia e, a posteriori, do cinema, os monstros e os contos de fadas ganharam uma nova forma de serem mostrados.

Muitas das vezes, essas histórias fantásticas de monstros e contos de fadas servem para mostrar a condição humana em face da sua própria história e de suas ações que são cruéis ao longo dos séculos. Tão comum, que muitas vezes os monstros adquirem traços de personalidade humana, como compaixão e empatia, enquanto a raça humana adquire os caracteres desvirtuados pela sua própria ambição. Esse pensamento parece ter sido absorvido pelo diretor Guilhermo del Toro em seu mais novo filme "A Forma da Água" (The Shape of Water, 2017) que concorre em 13 categorias do Oscar, incluindo melhor filme e melhor direção.

Os personagens apresentados são totalmente estereotipados de um conto de fadas ou filme de monstros, mas não preso a eles. A forma como o roteiro trabalha apresentação de personagens, seus problemas e suas soluções é feita de maneira primorosa. "A Forma da Água", ao mesmo tempo em que é um filme de monstro, também retrata um drama político de uns EUA paranoico com a Guerra Fria e um belo romance, além de ser uma carta de amor aos filmes clássicos de uma Hollywood cada vez mais esquecida. Esse argumento ganha mais força quando o diretor sabe trabalhar bem atores e atrizes e extrai deles tudo que possam contribuir para o filme. A personagem Elisa (Sally Hawkins) é muda e mesmo sem verbalizar uma fala, transmite todas suas emoções e sentimentos por meio de seu olhar.

A direção do Guillermo del Toro está condizente com seus outros filmes, os planos são belos e a cinematografia é excelente com uma presença de verde ao decorrer do filme. A decupagem é bem suave aliada com uma montagem muito boa e uma trilha sonora muito forte. Esses elementos entregam um filme que tem a capacidade de atrair a atenção do seu público e a prender até o final.

Embora não seja o melhor trabalho do diretor para mim (mas, mesmo assim, certamente figura na lista dos melhores) "A Forma da Água" realmente merece todas as indicações que tem, é uma carta aberta aos filmes de monstros e à humanidade. Ficando a sensação de ser uma história já vista, mas sem perder o tom de originalidade, seja pela forma com que as personagens são apresentadas ou pela inconfundível cinematografia de Guillermo del Toro.

Publicado pelo Autor em Só Mais Uma Coisa

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