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Dossiê | 16º NOIA


Lambari

Por Ailton Monteiro

Mesmo participando do júri da crítica do 16º Noia e estando de acordo com a escolha do escolhido, que esteve entre os favoritos dos três votantes, é bom dizer, tenho aquele filme que me calou mais fundo na alma. Trata-se de "Lambari" (RJ, 2016), de Rodrigo Freitas, que nos faz lembrar dos efeitos nefastos da lama da Samarco Mineradora S/A na vida de um homem simples, morador da cidade mineira de Barra Longa, uma das mais afetadas pela tragédia de Mariana.

O curta-metragem não vem com letreiros explicativos. Talvez fosse o caso de usá-los para uma exibição internacional, mas para o Brasil as imagens e o depoimento triste do pescador João Freitas são suficientes para nos situar. Muito foi noticiado em fins de 2015, mas o restante do Brasil, aquele que não convive diretamente com a realidade de destruição do acidente, precisa de vez em quando que isso lhe seja lembrado.

No Brasil, estranhamente, há bem poucos filmes sobre o desastre. O assunto poderia render tanto grandes documentários, quanto obras de ficção épicas e trágicas. Talvez seja questão de tempo até isso acontecer, mas a impressão que fica é a de que as pessoas estão ocupadas demais com seus próprios problemas para pensar em algo que esteja distante do próprio umbigo, mesmo tendo o inimigo impactado negativamente a fauna e a flora de imensas áreas brasileiras, matando peixes, vegetação e enfeiado a paisagem.

Nesse sentido, o diretor Rodrigo Freitas foi bastante feliz ao não optar por trazer o marrom do ambiente como um recurso de direção de arte para embelezar o quadro. Ao contrário, a fotografia, invadida pela cor da lama, assume que estamos diante de um terrível evento pós-apocalíptico, como visto em alguns filmes de ficção científica de linha pessimista. Não há, sabiamente, nenhuma intenção de fetichizar o ocorrido através das imagens.

O recorte feito com sensibilidade por Freitas nos apresenta a um homem aposentado que teve sua alegria de vida afetada pela invasão da lama. João Freitas pescava. Essa alegria lhe foi roubada. Vê-lo cantar "Felicidade", de Lupicínio Rodrigues, perto do final, chega a ser devastador. Difícil não lembrar daqueles momentos emocionantes de entrevistados que cantam nos filmes de Eduardo Coutinho.

O documentário, como o registro de filmagem que mais se aproxima do acaso para seu sucesso ou fracasso, deve muito de sua sorte a seus personagens - sendo o caso de filmes de personagens. Na figura do Seu João Freitas, temos um homem que é psicologicamente avaliado pela própria filha no próprio curta-metragem como alguém que vive em estado de negação da dor, evitando sempre falar de maneira grave. Ele ri dizendo que o show deve continuar, que é bola pra frente. Mas sabemos que isso, além de dito com aquele sorriso triste, é contraditório com suas primeiras palavras, ditas no início do filme, enquanto usa sua vara de pescar no rio cor de lama: "não vejo mais, não vou ver mais".

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Produção efervescente

Por Adriana Martins

Participar do Júri da Crítica no NOIA – Festival do Audiovisual Universitário é sempre uma experiência enriquecedora, pois permite entrar em contato com uma produção quase sempre distanciada dos canais de circulação - e mesmo do circuito nacional de festivais. Ao mesmo tempo, o evento possibilita conhecer o que estudantes da área estão pensando e propondo e, portanto, o que uma nova geração de futuros realizadores pode trazer par a linguagem cinematográfica no País.

Sobre a curadoria da edição deste ano, a despeito de alguns equívocos na seleção das obras - que, em termos de qualidade artística, não representam todo o potencial da produção universitária nacional - destacou-se uma acertado foco em temáticas sociais urgentes. Nesse sentido, o NOIA segue como importante iniciativa para a linguagem, tanto no âmbito de fomento à circulação quanto de representatividade do cinema autoral nacional e de formação de plateia.

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