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  • Thiago César

Dunkirk (2017), de Christopher Nolan


Christopher Nolan é um cineasta ambicioso. A cada novo trabalho, o diretor parece querer superar o anterior, conquistando a expectativa de grande parte do público. Aliás, este mesmo público só passou a saber quem é Christopher Nolan graças à sua visão diferenciada de um dos maiores super-heróis do mundo: Batman. Com sua trilogia bilionária, conseguiu uma legião de fãs provenientes de blockbusters, que provavelmente não teria caso tivesse recusado trabalhar com o personagem.

Essa é uma faca de dois gumes, pois se por um lado os espectadores casuais têm a oportunidade de ver algo um pouco mais elaborado em termos de linguagem, por outro, estes mesmos começam a fazer exageradas e injustas comparações entre Nolan e lendas do cinema, como Stanley Kubrick. Todo esse hype continua mesmo quando as obras do diretor decepcionam, como o último título da trilogia do "Cavaleiro das Trevas" e a ficção-científica "Interestelar". Infelizmente, "Dunkirk" também não escapa desse destino.

O longa baseado em fatos reais narra um importante acontecimento da Segunda Guerra Mundial, quando soldados ingleses e franceses foram encurralados pelo exército inimigo na praia que dá nome ao filme. Sem chances de contra-atacar, eles têm que sobreviver enquanto aguardam resgate que, por sua vez, encaram frequentes ofensivas.

Tecnicamente, o filme não fica devendo. A fotografia de Hoyte Von Hoytema, que já havia trabalhado com o diretor em "Interestelar", não só compõe quadros significativos como promove uma experiência única em IMAX durante as cenas das batalhas aéreas. A trilha de Hans Zimmer, parceiro de longa data de Nolan, é fator fundamental para a construção da atmosfera de constante tensão.

O diretor, que também assina como roteirista, cria boas situações que geram angústia no espectador. Entre um e outro destes momentos, até consegue pincelar certos discursos de praxe em filmes de guerra, com temáticas sobre moralidade e culpa. De acordo com Nolan, sua abordagem perante a história era de suspense, citando até Alfred Hitchcock como uma das principais influências. Porém, diferente do mestre do gênero, Nolan se sustenta apenas nas situações, ignorando os personagens. O suspense e os discursos só são efetivos quando nos importamos com quem está em meio a eles. Desde seu primeiro longa, "Following", o cineasta não assinava um roteiro sozinho. Aqui percebemos que ele não é tão bom em trabalhar personagens quanto é em gerar climas particulares que afetam sensorialmente o espectador.

A proposta de descentralização do protagonismo é interessante, mas mal executada. Em vez de dinamismo, causa dispersão. A estrutura narrativa também falha em sua ousadia. Acompanhamos o mesmo evento em três espaços diferentes e em três momentos temporais diferentes. Com isso, o diretor fica sem uma linha narrativa de base, perdendo o ritmo no decorrer da história e causando confusão no público sobre quando ou com quem algo está acontecendo. Ao fim da projeção, o entendimento é claro sobre o todo, mas as experiências específicas de cada momento são prejudicadas devido a má construção narrativa.

As primeiras obras de Christopher Nolan revelam seu inquestionável talento. Mais uma vez, vemos este ser apagado pela sua ambição. O diretor pensa grande e esquece o básico. "Dunkirk" está longe de ser um filme ruim e até alcança o que se propõe em termos de abordagem e atmosfera, mas peca em realizar seu potencial icônico em termos de linguagem e discurso.

Texto publicado pelo autor no site Cinemaginando.

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