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  • Ailton Monteiro

Mogli - O Menino Lobo (2016), de Jon Favreau


Há quem vá achar que isso pode significar um retrocesso, mas o fato é que o jeito antigo de se contar histórias continua funcionando muito bem, especialmente se o narrador está mirando um público mais jovem. "Mogli - O Menino Lobo" é um triunfo desse cinema à moda antiga da velha Hollywood e do modelo clássico-narrativo, agora com os novos recursos tecnológicos à disposição, fazendo da produção uma obra de cair o queixo em sua mistura perfeita de live action (o menino Mogli, basicamente) com animação em CGI (todos os animais).

O diretor e produtor Jon Favreau já havia feito um filme delicioso há pouco tempo, mas muito mais modesto comercialmente, a comédia dramática sobre culinária "Chef" (2014), antes de se aventurar em mais uma superprodução. Aqui ele proporciona novamente prazer neste projeto ambicioso que é fazer uma nova adaptação, utilizando tecnologia de ponta, da obra de Rudyark Kipling que recebera, até então, uma versão considerada definitiva também assinada pelos estúdios Disney: a animação homônima de 1967.

Logo no início, somos apresentados a um garotinho que convive harmoniosamente com vários animais em uma floresta. Existe a lei da selva, em que animais predadores matam para se alimentar de outros animais. Embora isso não seja mencionado explicitamente, fica bastante claro quando vemos o momento sagrado de união de todos os bichos, quando eles param tudo para beber água em um rio perto da chamada Pedra da Paz.

O clima fica tenso com a chegada do tigre-de-bengala Shere Kan (dublado por Idris Elba), um animal terrível que guarda uma cicatriz no rosto deixada por um humano. Ele tem um especial interesse em matar o pequeno Mogli (Neel Seth), que vê como uma ameaça à selva - os humanos são vistos como responsáveis diretos pela destruição da natureza, com certa razão. O garoto, ainda bebê, fora resgatado pela pantera Baguera (dublado por Ben Kingsley) e foi adotado com carinho em uma alcateia de lobos. Raksha (dublada por Lupita Nyong’o), a mãe-lobo, é mostrada como extremamente carinhosa e preocupada com o filho adotivo.

Por ser um filhote humano, Mogli consegue sobreviver e vencer corridas ou chegar a atalhos através de truques produzidos por sua inteligência e não imitando os lobos. Aliás, esse aspecto é a introdução do personagem na narrativa. Depois é que vamos sabendo mais detalhes sobre suas origens naquele lugar reservado aos animais. Nas leis da selva, também vamos sabendo mais detalhes sobre como são vistos os elefantes, e somos também apresentados à fascinante e assustadora píton Kaa (dublada desta vez por uma mulher, Scarlett Johansson).

A nova versão da história não se distancia tanto do clássico de 1967, já que mantém algumas canções, ainda que poucas. E uma ou duas parecem um pouco deslocadas dentro da busca de um maior realismo nesta nova versão, como na cena em que o orangotango gigante Rei Louie (dublado por Christopher Walken) canta "I wanna be like you". A cena da canção acaba dando um ar um tanto grotesco e diminui a força do medo que o imenso personagem é capaz de trazer.

Falando em intérpretes e canções, como não admirar o trabalho de Bill Murray como o urso Balu? Inclusive, ao ver o filme em sua versão original legendada, é de se lamentar que alguém o veja dublado, sendo privado de perceber a perfeita conexão entre Murray e Balu, como se o personagem fosse criado especialmente para ser interpretado por ele, em seu misto de preguiça e esperteza.

O filme, aliás, talvez não seja muito apropriado a crianças muito pequenas, pois pode assustá-las. Especialmente por causa da violência de Shere Kan e das cenas de luta física entre os animais. E mais: se um dia você sonhou em ver "Rio Vermelho", de Howard Hawks, no cinema, por causa da cena da manada de bois, não deixe de ver "Mogli - O Menino Lobo" no cinema, especialmente em IMAX 3D: há uma cena de manada de búfalos que é impressionantemente linda. Poucos filmes no cinema contemporâneo feitos em Hollywood podem fornecer tal grau de força e maravilhamento, e com um uso de 3D que faz a diferença. Porém, como há muitas cenas escuras, o ideal é procurar ver na melhor sala 3D disponível em sua cidade, caso não seja possível ver em IMAX.

No mais, não deixe de ficar para os créditos, para saborear a versão de "Trust in me", cantada por Scarlett Johansson. Já se conhece o talento da atriz também como cantora, e seu timbre de voz, aliado aos novos arranjos, ficaram perfeitos juntos.

Publicado pelo autor no blog Diário de um Cinéfilo.

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