top of page
  • Thiago Sampaio

xXx: Reativado (2017), de D.J. Caruso


Quando “Triplo X” (xXx, 2002) foi lançado, a proposta era fazer uma espécie de paródia dos filmes de espionagem, que têm como ícone máximo a franquia 007. O charme ficava de lado, dando vez aos músculos e os esportes radicais. A ideia também era potencializar a imagem de astro de ação de Vin Diesel, que vinha do sucesso “Velozes e Furiosos” (2001). De lá para cá, o ator buscou rumos diferentes, tentou comédia (“Operação Babá”, 2005), trabalhou com Sidney Lumet (“Sob Suspeita”, 2006), até perceber que a fonte da fortuna eram mesmo essas franquias tunadas.

Se os longas dos carros envenenados já vão para o oitavo episódio e Diesel ganhou autonomia para mandar e desmandar, 15 anos depois ele retorna para o outro produto com a mesma intenção. Acontece que o resultado de “xXx: Reativado” é tão desagradável que dificilmente vai ganhar vida longa.

A trama, ultra criativa, é essa: Xander Cage (Vin Diesel) desiste de sua aposentadoria quando Xiang (Donnie Yen), um guerreiro mortal, coloca suas mãos em uma arma indestrutível chamada de “Caixa de Pandora”. Xander recruta os “melhores soldados do mundo” para destruir o vilão e paralelamente tem que enfrentar uma resistência formada por governos corruptos de todo o mundo.

O primeiro “Triplo X” teve o seu valor para a época, mas muitos não lembram que a franquia teve um segundo episódio, “xXx 2 – Estado de Emergência” (2005), estrelado por Ice Cube, um fracasso tanto de crítica quanto de bilheteria. O terceiro aposta comercialmente no retorno do astro original, porém, fica aquela sensação de produto ultrapassado. Ver Xander Cage de novo em cena, nem de longe traz a nostalgia necessária para um sucesso. Para piorar, a escolha pelo diretor D.J. Caruso (dos medianos “Paranóia”, 2007; e “Eu Sou o Número Quatro”, 2011) não ajuda a tornar o longa-metragem diferente de muitas produções genéricas que são lançadas anualmente.

Não que “xXx: Reativado” deveria ser levado a sério. Acertadamente, Caruso não esconde o intuito de auto-paródia, utilizando recursos como a descrição bem humorada de cada personagem que surge em cena, com direito a uma referência a “Os Vingadores” com Samuel L. Jackson chefiando uma seleção para integrar um projeto secreto de heróis. O estereótipo do brutamontes ostentando um casaco de peles brega que pega várias mulheres de uma só vez está lá, a produção brinca com isso, mas também não surge nenhum efeito positivo. O problema é que o diretor não se aproveita dessa premissa e acaba se perdendo em sequencias de ação pouco criativas, de fazer Michael Bay ter inveja perante tantos elementos em cena e uma infinidade de cortes em frações de segundo.

Ora, a ideia do projeto “Triplo X” não era pegar esportistas e utilizar das suas habilidades para o trabalho de espião? Aqui, o único momento em que Xander Cage pula de uma antena parabólica e desce um penhasco utilizando um par de esquis, seguido de uma ladeira íngreme com um skate, o objetivo é ligar um sinal de TV para que uma comunidade possa assistir a uma partida de futebol (…). Tem uma perseguição com motos que andam sobre a água, que soa mais bizarra do que estilosa. De resto, um monte de tiroteios, pancadaria em um avião, explosões, e nada mais que tenhamos visto repetidas vezes.

Do que adianta colocar atletas de verdade, como o lutador do UFC Michael Bisping, para dar apenas alguns socos e na maior parte do tempo ficar com metralhadora em punho? Se o público do Brasil for pela curiosidade de ver Neymar na telona, o atacante do Barcelona e da seleção brasileira passa vergonha em cena com uma fala rápida (em português) e chutando um porta guardanapo. O bom Donnie Yen até tem a chance de mostrar suas habilidades nas artes marciais em sua aparição inicial, mas depois, se torna mais um talento desperdiçado. A produção ainda tenta causar impacto no espectador ao fazer ligação com o esquecido segundo filme, com uma participação de Ice Cube (é spoiler, eu sei, mas quem se importa?!), mas em nada influencia, já que a franquia não tem força própria.

Vin Diesel não faz mais do que todos já estão acostumados. Xander Cage é Dominic Toretto com tatuagens e curte outros meios além de carros. Samuel L. Jackson sabiamente ficou de fora dessa empreitada e teve o seu papel bem reduzido, de modo que Augustus Gibbons está lá apenas para manter a identidade da franquia. Para o lugar da nova mentora da Agência de Segurança Nacional (NSA), a ótima Toni Collette parece estar lá apenas para garantir o seu cachê. De resto, a equipe de Xander Cage, formada por Rory McCann (“Game of Thrones”), Ruby Rose (“Orange Is the New Black”) e Kris Wu (promessa do cinema chinês que faz sua estreia em Hollywood) garantem algumas boas cenas de humor, mas o espectador em nenhum momento chega a se importar ou sentir falta de algum deles.

“Pegue garota, elimine pessoas e mantenha a pose”. Essa “lição” dada a Xander Cage durante o longa, por mais machista e estereotipada que seja, também é a proposta desta continuação, que poderia até ser eficiente caso soubesse trabalhar a própria falta de pretensão. O que é irônico, pois a franquia deve ganhar novos episódios, com ou sem apelo dos velhos e novos “fãs”. No fim das contas, é só mais um filme de ação ruim mesmo.

Publicado pelo autor no Blog Cena Cultural / Tribuna do Ceará.

bottom of page