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Diego Benevides

La La Land - Cantando Estações (2016), de Damien Chazelle


Não é de hoje que a indústria americana percebeu que a nostalgia faz sentido nos filmes contemporâneos. É fácil verificar isso nas inúmeras refilmagens, reboots e sequências de histórias e personagens que fizeram sucesso em um passado não tão distante.

"La La Land -­ Cantando Estações" se beneficia não só por isso, já que faz um resgate da época de ouro dos filmes musicais enquanto homenageia a querida cidade de Los Angeles. A dupla iniciativa vem acompanhada de um casal de protagonistas simpáticos que vivem um romance enquanto perseguem sonhos e superam desafios.

Assim, o longa­-metragem é totalmente formatado para receber a aprovação popular e da imprensa especializada. Tudo parece estar no lugar e dá a impressão de que encontrar qualquer defeito na produção é forçar a barra, já que o diretor Damien Chazelle consegue fazer um filme de sentimentos e de fácil digestão.

Os sete prêmios recebidos no Globo de Ouro 2017 aumentaram as expectativas, principalmente com a responsabilidade de colocar o cinema musical novamente nos holofotes. Nesse contexto, "La La Land ­0 Cantando Estações" traz referências fáceis de identificar. A sequência inicial, por exemplo, é extremamente bem realizada, com Chazelle assumindo o risco do plano sequência sem sofrer danos.

A questão é que o miolo do filme, mais especificamente o segundo ato, repete os conflitos que ora são infantis, ora pendem para o brega. O roteiro, também assinado por Chazelle, não oferece muito além do que comédias românticas enlatadas fazem todo mês nas telonas do cinema.

Não fosse pelo ótimo começo e excelente desfecho, "La La Land ­- Cantando Estações" teria dificuldade de fazer com que o público saísse da sessão com uma sensação agradável, de nostalgia e, talvez, até um pouco mais apaixonado pelo próprio cinema.

É difícil se envolver com os conflitos dos protagonistas: um quer ser pianista; a outra, atriz. Eles estão na devastadora Los Angeles, que não se apieda de questionar seus talentos. Assim, o que o roteiro oferece de melhor é o nascimento da relação amorosa entre Mia, vivida por Emma Stone, e Sebastian, papel de Ryan Gosling.

A química entre os dois é inegável e o que eles trazem de espontaneidade e humor para o texto de Chazelle rendem ótimas cenas de relacionamento. A forma como eles se apoiam, se questionam e se desenvolvem como um casal é o que cria a empatia da obra, não necessariamente seus desafios no mercado artístico de Los Angeles.

Entretanto, é compreensível que a imprensa internacional tenha sido arrebatada pelo filme de Chazelle, que fala com muita franqueza sobre os pontos de vistas de se tornar alguém, de construir relações. Além, claro, das homenagens musicais. Por outro lado, é notável que a obra, visualmente bem desenvolvida, já nasça quase datada, justamente por não trazer nada de novo, nem de extraordinário, para o cinema contemporâneo.

Stone e Gosling também se aproveitam da imagem de queridinhos da América para impressionar com suas habilidades musicais: ela, com uma voz belíssima; ele, ao dedilhar canções incríveis no piano. A soma é boa e ajuda na proposta de realizar um feel good movie de verão.

O diretor Damien Chazelle também está mais contido, se comparar ao trabalho exagerado de "Whiplash: Em Busca da Perfeição" (2014). O cineasta tem total domínio dos elementos visuais e dinâmicos do cinema musical, oferecendo uma condução segura e criativa da maioria dos números musicais. Por outro lado, algumas alternativas soam repetidas, como a insistência de apagar e acender luzes para marcar os personagens na cena.

Em filmes assim, elementos como a trilha sonora, a direção de produção e os figurinos sempre enchem os olhos por serem capazes de recriar e, às vezes, repensar as propostas de linguagem e gênero das obras. Ainda que não seja extraordinário, "La La Land -­ Cantando Estações" cumpre a fácil missão de fazer o público se apaixonar sem esforço.

Publicado pelo autor no Jornal Diário do Nordeste.

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