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  • Arthur Gadelha

A Luz Entre Oceanos (2016), de Derek Cianfrance


Não é difícil imaginar o que atraiu Derek Cianfrance ao livro "A Luz Entre Oceanos" da australiana M. L. Stedman. Sua trama induz, do acaso, situações que o transformam em longos atos - assim como seu último filme "O Lugar Onde Tudo Termina". Além de ter uma função inicial de relacionar as emoções de um casal, viés presente de modo intenso em "Namorados Para Sempre". Seu novo trabalho é um drama que começa caminhando por terras conhecidas - a fotografia clássica, o surgimento da paixão, o romance incontrolável. Já vimos tudo isso em um amontoado de romances genéricos. O que vem depois, porém, fazem desta uma obra de Derek, não pelos motivos da trama, mas pela estrutura dos problemas que movem seus conflitos.

Sem conhecimento prévio da história, conforme o casal passa pelos processos da incitação, formação e paraíso pós-união, alarma que, até então, tudo seja trabalhado de forma arrastada. A falta de definição o torna interessante no ponto de virada, mas em certo ponto confuso.

A narrativa sabe organizar a emoção em seus ápices de um modo geral, mas é problemática ao tentar garantir que saltos temporais e dramáticos tenham o impacto devido - quando, na realidade, muitos deles se danificam ou pelo excesso ou pela ausência de elementos suficientes. Entre desconhecidos e casados, por exemplo, não mais que duas cartas são a ponte entre impulsos tão instantâneos. Em sua conclusão, outra informação que poderia ser somente sugerida surge de modo gratuito, enfraquecendo a força emocional que seus personagens carregavam até ali. Mas o longa apresenta exemplos de boas construções narrativas, como o processo sugestivo de inclusão da personagem de Rachel Weisz, sua abordagem sutil durante todo filme e até mesmo o desenvolvimento do conflito principal.

A trilha de Alexandre Desplat não poderia ser mais adequada. Sua proximidade com o clima da trama lembra seu trabalho impactante em "A Arvore da Vida", de Terrence Malick, usando até a mesma música em uma situação completamente distinta - o encaixe dos tons em cenas tão diferentes só evidencia a propriedade de Desplat para com os sentimentos que a música é capaz de suscitar. E compreende isso de modo corajoso ao rechear quase o filme inteiro de suas intromissões, com alguns raros momentos de silêncio. Em outra usabilidade, o resultado poderia facilmente soar forçado.

Embora algumas transições muito rápidas, o desempenho dos atores principais é o aspecto responsável por relativizar os acertos e problemas. Em uma trama especialmente sensível, os trabalhos de Michael Fassbender (Tom) e Alicia Vikander (Isabel) impressionam pela distância de seus sentidos e pelo impacto crível da relação. Até mesmo em sua conclusão desalinhada, o casal permanece crucialmente importante.

Apesar de tudo, “A Luz Entre Oceanos” é uma obra de grandes méritos. Emocionante de modo cabível, a história e sua execução concebem a realidade imprevisível de Tom e Isabel com uma abordagem íntima e diretamente envolvente. Mais uma vez, o destino se apresenta como um elemento igualmente errático por sua capacidade de relacionar consequências. E para Derek Cianfrance, não importa se para dizer isso será preciso interromper a própria trama de modo inesperado ou deixa-la correr calma – coragem acima de tudo.

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