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André Bloc

Jason Bourne (2016), de Paul Greengrass


Já no nome, "Jason Bourne" é um filme que promete ir direto ao assunto. Em vez dos substantivos que acompanhavam o título, dessa vez Bourne vem acompanhado de seu nome próprio. Depois de uma atrapalhada curva no caminho, com o quarto filme da série ("O Legado Bourne", de 2012) sendo protagonizado pelo agente Aaron Cross (Jeremy Renner), a franquia prometia voltar às origens ao novamente parear o ator Matt Damon com o diretor Paul Greengrass –parceiros em "A Supremacia Bourne" (2004) e "O Ultimato Bourne" (2007). E, bom, é definitivamente um filme que se mantém fiel ao personagem.

Desde 2002, ano de lançamento de "A Identidade Bourne", de Doug Liman, o ex-espião que dá título a todas as tramas – inclusive aquela em que não aparece – segue tentando jogar luz nas sombras de seu passado. Então, é no mínimo decepcionante ver que o roteiro assinado por Greengrass e Christopher Rouse se ancora, mais uma vez, em Bourne buscando pistas sobre segredos do seu passado enquanto é caçado por agentes da CIA.

Um fator que diferencia essa sequência das anteriores dirigidas por Paul Greengrass é que, dessa vez, o roteiro não se baseia nos densos romances policiais de Robert Ludlum. Aliás, de certa forma até mantém a base, já que a trama é quase um apanhado da trilogia original. Além disso, Greengrass segue com seu estilo intacto. Se em 2004 a ação acelerada, a violência quase realista e a câmera em intenso movimento eram uma lufada de vida ao estanque sub-gênero da espionagem, hoje, isso soa cada vez mais genérico. Em vez de soar autêntica, a câmera tremida e em movimento já dá náuseas.

"A Identidade Bourne" era sobre uma quebra. Um espião contra seu próprio programa de treinamento. Em busca de si. Era para ser tudo, menos o mais do mesmo que a franquia James Bond fazia então. Como surpresa do destino, o agente secreto inglês se reinventou com ação e trajetórias pessoais – claramente inspirado naquilo que Bourne iniciou em 2002. Enquanto isso, o espião desmemoriado ficou preso na mesmice.

A ação segue como forte da obra. Os arquétipos dos personagens também seguem bem estruturados. Um vilão maniqueísta (Tommy Lee Jones), uma mocinha duvidosa (Alicia Vikander), um capanga eficiente (Vincent Cassel). Aquilo de sempre em obras de ação/espionagem. Mesmo com as boas sequências e (poucos) diálogos bem construídos, o filme parece sempre atrasado. São discussões sobre liberdade de informação, sobre redes sociais, que até filmes horríveis como "Truque de Mestre – 2º Ato" já fizeram. Se comparado a uma série como "Mr. Robot", por exemplo, soa até injusto.

O ápice do filme, com duas sequências de ação enormes, não ajuda. A base de um espião é não ser notado, até onde o cinema me ensinou. Dois carros em perseguição no meio de Las Vegas, enquanto destroem todos os outros veículos é algo que, nem de longe, parece discrição. Assim como esse “Jason”, que nem parece “Bourne”.

Publicado pelo autor no Jornal O Povo.

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