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  • Daniel Herculano

Tudo Vai Ficar Bem (2015), de Wim Wenders


Dirigido por um calejado Wim Wenders, "Tudo Vai Ficar Bem" é um drama sobre um recomeço, perdas e ganhos sentimentais, que ensaia em densidade, mas que fica na superfície.

Em meio a uma crise de bloqueio criativo e um desentendimento com a namorada (Rachel McAdams), o escritor Tomas (James Franco) passa a dirigir sem rumo enfrentando a neve. Em um cruzamento, repentinamente surge um trenó e ele perde o controle do carro. O resultado é um trágico acidente, que afetará não apenas o seu futuro, mas também uma outra família.

Para ele, o resultado vem na petrificação de seus sentimentos, mas que faz deslanchar sua carreira com o sucesso dos seus livros. A mesma tragédia vai interligar a sua vida a de uma mãe traumatizada, Kate (Charlotte Gainsbourg), e seu filho curioso, Christopher (Robert Naylor, quando crescido).

O início é promissor. Um escritor preso ao seu bloqueio criativo, em meio a uma paisagem gélida e nada inspiradora. E o tom sobe com a ótima sequência do atropelamento, com uma boa decisão para a descoberta, seu primeiro contato com o menino sobrevivente (Tomas), e sua mãe, Kate, ganham o interesse da plateia.

Porém, com o passar do tempo – exibido de forma preguiçosa, com o simples nuance da mudança de temperatura – o mergulho dramático volta ao nível raso para ali ficar e não mais sair. Há também a tentativa de adicionar alguma emoção com a trilha bem presente de Alexandre Desplat, mas a trama não ajuda tanto seu próprio envolvimento com as imagens.

O drama de Wim Wenders foi filmado em 3D, o que acrescenta alguma profundidade à algumas sequências, como a da conversa ao telefone em que os dois personagens estão em planos diferentes, mas lado a lado na tela. Contudo, o resultado é simples demais diante da história e força do diretor.

Premiado outrora com "Paris, Texas" (1984) – BAFTA de melhor direção e a Palma de Ouro em Cannes -, Leão de Ouro em Veneza por "O Estado das Coisas" (1982), melhor diretor em Cannes com "Asas do Desejo" (1987), e indicado ao Oscar de melhor documentário por "O Sal da Terra" (2014), "Pina" (2011) e "Buena Vista Social Club" (1999), não apresenta sua força dramática habitual com "Tudo Vai Ficar Bem", que passou no Festival de Berlim 2015, porém fora da mostra competitiva.

James Franco (indicado ao Oscar por "127 Horas") parece em transe, sem avançar em direção alguma. Mesmo com uma justificativa para que as suas emoções se petrificam diante da tragédia, seu distanciamento da dor, apesar do peso que deveria carregar na alma, não funciona. É como se o sentimento não existisse em sua vida. E essa insistência em não se quebrar ou comover diante de suas próprias emoções nunca encontra espaço na própria história.

Pelo menos temos alguma coisa melhor de Charlotte Gainsbourg ("Independence Day: O Ressurgimento"), que revela pequenas transformações com o tempo e a perda. Além da postura de incentivo frente aos desejos do seu filho adolescente. Na pele de nova vida e interesse romântico, Maria-Josée Croze cumpre bem a função de uma personagem que demonstra alguma tentativa de reagir e interagir com novos sentimentos de Tomas.

Já Rachel McAdams (indicada ao Oscar de coadjuvante por "Spotlight", e de "Sob o Mesmo Céu") aparece como uma participação de luxo. Ela serve para lembrar que talvez Tomas/James Franco já tinha tudo o que queria, mas preferiu negar o seu presente real para mergulhar no nada. O rosto conhecido serve para dar algum destaque a uma personagem secundária, mas de tapa (real e sentimental), necessário na realidade do protagonista.

Obra sobre uma fissura da família e seus traumas causados pela dor a reboque, "Tudo Vai Ficar Bem" ainda tem uma trama paralela (desperdiçada) com o pai doente do protagonista, e uma tentativa de criar uma nova família, a fim de curar velhas cicatrizes. Em vão, assim como a potência dramática do filme, que é inconstante e parece nunca encontrar sua verdadeira força. Ou seja, tudo não fica tão bem assim no final.

Publicado pelo autor no Clube Cinema.

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