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  • George Pedrosa

Independence Day - O Ressurgimento (2016), de Roland Emmerich


Uma crítica comum a todos os filmes-desastre de Roland Emmerich é quanto à aparente indiferença do diretor com a quantidade de vidas que são perdidas na telona. Seja ao retratar finais felizes em que Jake Gyllenhaal encontra a paixão de sua vida ("O Dia Depois de Amanhã") ou John Cusack reconecta-se com sua família (2012) em meio a orgias de destruição de proporções bíblicas, as perdas humanas são sempre secundárias frente à necessidade dos protagonistas de superarem dramas pessoais.

Se havia alguma dúvida de que o cineasta poderia reverter essa disposição em seu filme mais recente, ela é rapidamente dissipada quando Jeff Goldblum, ao testemunhar a devastação de Londres e a obliteração de seus pontos históricos por aliens invasores, reage com uma piadinha metalinguística: "Eles adoram destruir monumentos". Quando chegamos ao clímax da trama e Bill Pullman declara com orgulho que não está tentando salvar o mundo, mas apenas sua própria filha, não há margem para outra conclusão: esse filme foi feito por um sociopata.

Assim como o primeiro "Independence Day" (1996) tem seu ponto alto na meia-hora inicial - esboçando um suspense envolvente ao atrasar o ataque alienígena prometido pelo pôster - a melhor coisa dessa sequência é a forma como ela rouba ideias e conceitos visuais da série de jogos XCOM para a construção de sua ambientação no primeiro ato.

Vinte anos após a invasão do filme original, a Terra incorporou a tecnologia dos destroços alienígenas abandonados no planeta. Em pleno 2016 temos carros voadores, bases lunares e armas de feixe energético, além de um programa de defesa global encarregado de proteger a humanidade contra invasões interestelares. É uma premissa divertida que poderia ter possibilitado um confronto mais proporcional entre humanos e extraterrestres, mas que é deixada de lado em favor de uma repetição do primeiro filme.

Seguindo a cartilha de criatividade de reboots como "Jurassic World" e "Star Wars: O Despertar da Força" - em que a ameaça enfrentada pelos heróis é a mesma do filme original, só que maior - "Independence Day: O Ressurgimento" eleva à enésima potência a catástrofe humana e ambiental, mas com rendimentos decrescentes em termos de tensão e envolvimento. Em duas horas de duração nós temos: uma nave alienígena que não apenas cobre cidades, mas continentes inteiros; bilhões de vidas perdidas; monumentos históricos de países diferentes colidindo uns com os outros; a perfuração do núcleo da Terra; um tsunami e até um kaiju.

O filme funciona basicamente como uma fusão de todos os ingredientes de blockbusters modernos, com o retorno de personagens antigos interpretados por atores envelhecidos e a inclusão de rostos jovens e bonitos retratando a próxima geração de heróis, num clima geral de nostalgia e passagem de tocha. Mas é difícil definir qual exatamente é o público alvo de "Independence Day" - a cobiçada faixa etária de adolescentes certamente não vai se empolgar tanto com o retorno de figuras tão icônicas e memoráveis como o cientista maluco de Brent Spinner e a ex-stripper/atual médica interpretada por Vivica Fox. Cacete, eu tenho idade suficiente para ter visto o filme original nos cinemas e tive que me esforçar para lembrar de metade dos personagens na tela.

Outro fator que tem a escala ampliada nessa sequência é a burrice esmagadora do roteiro. O Ressurgimento é ainda mais estúpido que o original - e estamos falando de um filme em que Jeff Goldblum consegue destruir uma frota alienígena usando um vírus feito em um Macbook de 1996. Aqui temos personagens separados por quilômetros de distância se encontrando por coincidência em momentos-chave, líderes mundiais que atacam uma nave sem saber as intenções dos ocupantes e um número hilariamente excessivo de personagens - incluindo um senhor da guerra africano munido de katanas e um ônibus escolar cheio de crianças.

A coisa toda é até divertida de uma forma meio "Ed Wood com orçamento milionário", não fosse por clichês irritantes como o piloto ousado com problemas de autoridade, burocratas que tomam decisões estúpidas e mocinhas que são meros interesses românticos a serem conquistados logo após a vitória final. Um possível sucesso financeiro desse filme certamente levaria à produção de mais sequências, e eu imagino que fãs de ficção científica até conseguiriam sentir alguma satisfação despretensiosa com essa saga. Só não espere encontrar sinais de vida inteligente nesse universo.

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