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  • Beatriz Saldanha

Finis Hominis (1971), de José Mojica Marins


Uma das atrações mais charmosas da XII edição do Fantaspoa são as exibições de filmes brasileiros que estão acontecendo na Cinemateca Capitólio. O suntuoso prédio localizado no centro histórico de Porto Alegre foi inaugurado em 1928 e estava fechado desde 1994. Tombado em 2002, passou por uma série de reformas e no ano passado foi reaberto ao público. Projetando apenas filmes em 35 mm, a Cinemateca Capitólio oferece uma programação mais alternativa, entre filmes estrangeiros e filmes clássicos, além de promover a difusão do cinema gaúcho.

Dentro da programação do Fantaspoa estão acontecendo na Cinemateca Capitólio as sessões Petrobras, com seis longas-metragens de gênero, entre os quais está "Finis Hominis" (1971), de José Mojica Marins. O filme passou em sessão praticamente lotada no último sábado, dia 21 de maio, e foi reprisado no domingo, dia 22, devido a um problema com a cópia de "Fica Comigo Esta Noite", que seria exibido naquele dia.

"Finis Hominis" é um esforço de Mojica de se afastar um pouco do personagem Zé do Caixão, que, tendo aparecido em quatro filmes do diretor até aquele momento, já tinha se tornado uma espécie de alter ego. Ao contrário do cruel personagem do agente funerário, Finis é um homem pacífico de origem misteriosa que surge para interferir em situações cotidianas de violência física e moral, agindo com justiça e sensatez, revelando a hipocrisia em muitas camadas da sociedade.

Apesar de ser bastante inferior aos filmes de Zé do Caixão por dificuldades como ter que trabalhar com um elenco quase que inteiramente amador e filmar de improviso na rua, "Finis Hominis" faz uma interessante metáfora bíblica através de personagens e situações que lembram Maria Madalena, Lázaro e o próprio Jesus Cristo, simbolizado pela figura de Finis. Bem humorado (nem sempre intencionalmente) e anárquico, vale por sua inventividade, por ver como Mojica lidou de maneira criativa com a indisfarçável precariedade da produção, praticando seu cinema de guerrilha no sentido mais puro.

Lançado em DVD no Brasil em versão completa, a versão de "Finis Hominis" vista pelo público do Fantaspoa estava em más condições de preservação, além de ser a cópia cortada pela censura. Ou seja, quem estava vendo o filme pela primeira vez provavelmente teve uma experiência difícil, já que muitas das cenas que continham erotismo ou blasfêmia foram simplesmente eliminadas, fazendo com que perdessem o sentido. O valor da sessão residiu na oportunidade de conferir uma cópia rara e nos debates ocorridos após a exibição (no sábado, com André Barcinski, e no domingo, com Carlos Primati), que acrescentaram bastante valor à esta experiência cinéfila.

Filme visto no XII Fantaspoa.

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