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  • Daniel Herculano

Meu Amigo Hindu (2015), de Hector Babenco


Cineasta diagnosticado com câncer terminal na espinha dorsal, Diego Fairman (Willem Dafoe) tem uma única chance de viver ao se submeter a um transplante de medula óssea experimental. Seu único doador possível é o irmão com quem não fala desde a morte do pai. Entre a morte e a nova possibilidade, casa com Lívia (Maria Fernanda Cândido) e celebra com os amigos antes de buscar a cura nos EUA.

“O que você vai assistir é uma história que aconteceu comigo e conto da melhor maneira que sei”.

Hector Babenco tenta justificar seu pequeno diário dos horrores com esses dizeres antes do filme. É uma tentativa inútil, diga-se, pois a experiência pessoal do cineasta em quase morte não se isso justifica com a prática do cinema ruim.

Argentino naturalizado brasileiro, o diretor já foi indicado ao Oscar de melhor diretor por O Beijo da Mulher-Aranha (1985), que também concorreu ao prêmio de melhor filme. Entre suas grandes obras estão Pixote: A Lei do Mais Fraco (1981), Ironweed (1987) e Brincando nos Campos do Senhor (1991). Antes de desandar de vez com Meu Amigo Hindu, seu último filme havia sido o digno O Passado (2007).

Em determinado momento uma enfermeira pergunta: “Você é alérgico a alguma coisa?”. E ele responde na lata: “Sim. Pessoas chatas”. Nesse caso esse filme poderia ser a síntese do que ele mais odeia, pois entre os poucos momentos lúdicos – sempre referentes ao cinema –, a viagem pela dor do cineasta é um drama que se dilui em chatice.

Willem Dafoe – que emagreceu bastante para passar pelo “tratamento” – é o esforço em pessoa. Mas a sua escolha para o papel deixou com que todo o elenco formado por brasileiros falasse em inglês, tornando a questão um tanto desconcertante.

A trama segue seu protagonista por tortuosas noites (ou seriam tentativas?) de sexo casual, zero tesão e muita solidão.

Entre as curiosidades do meio cinematográfico, há uma discussão com um cineasta nacional (que parece ser Fernando Meirelles), o incentivo ao seu médico a escrever sobre Carandiru, que depois viria a ser um filme seu, e uma referência ruim a O Sétimo Selo (1957), ao jogar xadrez com Selton Mello (a morte), que comenta também sobre seu filme favorito do diretor (Pixote).

Ainda no mundo do cinema, há citações musicais do filme O Picolino (1935) com “Cheek to Cheek”, ao acordar no meio da noite no hospital, cantando que está no paraíso/céu, e o mais ousado (e quase poético) da obra, “Cantando na Chuva”, com Bárbara Paz dançando de forma sensual para ele.

Ah, quer saber quem é o tal “amigo Hindu” de Babenco? Ele vai demorar a aparecer, e sua presença pode ser considerada pouco lúdica e muito apagada. Tanto quanto o resultado final de seu filme “autobiográfico”.

Publicado pelo autor no Clube Cinema.

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