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  • Arthur Gadelha

Terra de Minas (2015), de Martin Zandvliet


Não só no patriotismo de produções hollywoodianas, mas também no cinema estrangeiro, o Oscar tem um tema constantemente favorito: dramas de guerra. Especificamente no subtema que envolve conflitos nazistas (o húngaro "Filho de Saul" foi o vencedor em melhor filme estrangeiro na edição passada). Mas o que torna o dinamarquês "Terra de Minas" um projeto diferente é não comprar um debate moral, e sim flertar com ele de modo próximo.

A primeira cena registra um de seus protagonistas em um ato protecionista e agressivo contra os soldados inimigos. A imersão em um ambiente de intransigência é injetada sem muito rodeios e a elaboração do Sargento Carl (Roland Mølle) é propositalmente superficial. Torna-se ainda mais instigante quando o roteiro usa isso a seu favor mais tarde. Carl é designado a comandar um grupo de prisioneiros nazistas obrigando-os a uma cooperação não-sedutora: retirar milhões de minas terrestres de praias da Dinamarca. Mas os 'nazistas', distante de ícones antagônicos, são adolescentes que não fazem ideia do que estão fazendo. Que, ao invés de pensar ideologicamente sobre o fim da guerra, devaneiam sobre o que farão ao voltar para casa. Só em resgatar esse capítulo apagado, "Terra de Minas" já tem uma emoção que excede sua superfície.

O diretor Martin Zandvliet edifica uma história sobre pouquíssimas informações quase perdidas com o tempo. E decidir trazer como principal tema a fluência de uma compreensão ditatorial que há entre o Sargento e os meninos é o seu maior risco. Nisso, atem-se a um foco sempre passivo entre os lados da narração. Sem muito intromissão, a história é sobre a compreensão humana da guerra – é um apontamento muito simples e feito sem muito esmero, mas que alcança impacto.

O roteiro encontra uma emoção tímida nessas nuances tornando todas as incitações envolventes - ambos os lados anseiam atenção. E a inocência das crianças está diretamente ligada às ponderações que relativiza, como o apoio à guerra sem qualquer consciência real. "Terra de Minas" constrói um cenário onde, diante tamanha violência, olhar para essa ingenuidade parece suficiente para despertar o senso de humanidade. Sua abordagem poderia facilmente ser muito mais sensacionalista e até mesmo maniqueísta, mas a evolução silenciosa é o que o resulta em um filme "potencialmente real".

As duas possibilidades de conclusão surgem antes da metade do filme, e, aproveitando-se do desconhecimento da história, essa questões permanecem na expectativa. A narração final pode soar levemente apressada, mas a resolução é positivamente morna e ainda mais interessante que qualquer alarde estético. Um desencontro que sentimentaliza a situação em um ponto correto que, felizmente, nunca toca a artificialidade. "Terra de Minas" chega ao fim no momento exato para que suas reflexões se instalem para sempre.

Publicado pelo autor no site Quarto Ato.

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